quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

leiam pelo amor de Deus... hehehe

...chinês, chinês, chinês, chinês... Atendendo a inúmeros pedidos que eu mesmo fiz diante do espelho, continuo hoje as terríveis considerações sobre o que será do mundo quando houver dois chineses por cada metro quadrado de terra seca, e dois chine­ses pela cintura por metro quadrado de terreno alagadiço.
Em primeiro lugar, desaparecerão todas as nossas noções atuais de vida privada. Tudo terá que ser feito na frente dos chineses. O que não será tão ruim, a não ser que os chineses que ocuparem, por exemplo, nossos quartos de dormir se revelarem críticos com alguma ironia. Que desempenho conjugai será possível entre comentários sarcásticos sobre es­tilo, duração, dimensões, freqüência, etc.?
— Já?!
— Ainda bem que terminou. Se continuasse assim por mais um minuto eu ia começar a vaiar...
— Ele não é mais o mesmo.
— Talvez porque ela seja sempre a mesma...
— Ri, ri, ri...
Mas nem todas as perspectivas são terríveis. Os chineses tornarão desnecessários todos os modernos — e caros — meios de telecomunicação. Em vez de passar um telegrama, você só terá que abrir a janela e dizer para o chinês mais próximo:
— Telegrama para o Rio de Janeiro. Rua tal, número tal. “Consegui um lugar na lista de espera do Super Jumbo pt Estarei no Rio dentro de dois anos pt Abraços.” Passe adiante.
O chinês da janela passará a mensagem para o chinês do seu lado, este a passará para o chinês do seu lado, este para outro, o outro para outro e assim por diante até ela chegar ao Rio de Janeiro. É claro que o último chinês da corrente dará o recado trocado — sempre haverá um safado entre Registro e São Paulo que mudará tudo — mas pelo menos será bem mais barato.
Nas salas de visita, uma votação decidirá o programa de TV a ser visto cada noite.
— Aqui estão os resultados. Atenção: a favor do Fantástico, oitenta votos. A favor do Jogo Aber­to, setenta e dois. Os donos da casa, ridiculamente, votaram no Flávio Cavalcanti. Cinco votos.
— Ri, ri, ri...
E as filas? Você receberá um telefonema no meio da noite. Quer dizer, o chinês da janela baterá na vidraça e transmitirá um recado urgente. Morreu um chinês na sua frente na fila do cinema. A vaga é sua, mas corra!
O filme é Kung Fu contra o bisneto do chefão. Há oito anos que você espera para entrar no cinema. Você já subornou oitocentos chineses para chegar mais perto da bilheteria. E agora há uma vaga na sua frente. Você sai correndo, pisando em chineses. Só para descobrir que o chinês que guardava o seu lugar na fila casou com a chinesa da frente, teve sete filhos enquanto esperava e pegou a vaga para o seu pri­mogênito.
Haverá filas para entrar em filas. Os trens urbanos serão tão compridos que se estenderão do prin­cípio ao fim da linha, sem se mexer. Você correrá por dentro do trem, por cima de chineses, para chegar onde quer ir — e entrar na fila. As crianças serão colocadas nas filas do INPS logo depois de nascerem para chegarem ao guichê a tempo de reclamar apo­sentadoria. Cada dois chineses plantarão um pé de soja no seu metro quadrado de campo. A atenção ao pé de soja será total. O método de cultivo será tão artesanal que o pulgão morrerá por estrangulamento, ouvindo insultos pessoais o tempo todo.
E o pior não é isto. Imagine a luta para arran­jar lugar em restaurante no sábado!


texto de luis fernando verissimo
do livro a grande mulher nua.

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